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Manuela: "Ambiente de luta constrói a unidade para a ação política"

12 abril, 2018

Em entrevista ao jornalista Luís Eduardo Gomes, do Sul21, a pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela D’ÁVila,  faz uma análise da conjuntura e dos efeitos da condenação e prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde o último sábado (7). Ao falar sobre as perspectivas do campo progressista na eleições de outubro, Manuela desmontou o discurso da grande mídia e da direita conservadora de que diante do atual cenário, a esquerda est morta.
“Nós não fomos derrotados desde 2002. Nós sofremos um golpe. Nós estamos derrotando eles eleição após eleição. Eles precisaram dar um golpe para implementar o programa de governo deles”, lembrou Manuela, afirmando que a eleição é um momento importante do processo democrático em que os partidos podem expor suas ideias.
“Eu quero ver Alckmin, Bolsonaro, Flávio Rocha e Marina dizerem que são a favor da reforma trabalhista na TV. Ou nos debates. Para mim, eles vão ter que dizer. Então, quero ver dizer para uma mulher trabalhadora que eles são a favor da PEC de congelamento dos gastos públicos enquanto ela não consegue trabalho e é barrada na entrevista de emprego porque tem filho e não tem creche. Então, assim, eu acho que nós temos, embora o período seja muito adverso mesmo, condições de vencer a eleição, porque eles não ganham eleição há muito tempo”, salientou.
Manuela lembrou que nas últimas eleições os candidatos da direita vitoriosos nas urnas já deram demonstrações à população de como agem no processo eleitoral. “O Marchezan é prefeito não disse o que ia fazer. O Sartori não apresentou programa de governo, não defendeu o que ele faz. Não abstraiam isso. O Marchezan foi nas quadras das escolas de samba, ele falou lá que ia acabar com o Carnaval?”, indagou.
Para a pré-candidata comunista, o país vive uma etapa do ciclo do golpe. “É o segundo ponto mais agudo. O impeachment em si é um ponto muito agudo dessa conjuntura nova que o Brasil está vivendo e que parece que apenas a esquerda percebeu a gravidade, a profundidade e a necessidade de nós reagirmos”, frisou.
Ela definiu o golpe como um sequestro. “Um sequestro não acaba, ele é um ato continuado. Ele não se dá na hora que a pessoa é tirada do lugar e colocada no porta-malas”, comparou. E segue: “O golpe capturou ferramentas importantes da democracia brasileira para executar um programa. Primeiro é o impeachment, o não respeito ao voto popular, a gente vive um período muito intenso de ameaças a um conjunto de liberdades. A gente tem que falar sobre isso, o voto popular não é respeitado. Impeachment sem crime de responsabilidade. A vontade popular expressa pelas urnas não é respeitada. O programa de governo é rasgado por Temer. Reforma trabalhista, emenda constitucional 95, outras alterações importantes que aconteceram estabelecidas por ele também é o golpe. E agora, no ápice, digamos assim, do ativismo judicial, o juiz Sergio Moro decreta a prisão do ex-presidente Lula. Me parece que cinco dos onze ministros do STF compreenderam exatamente o tempo que nós estamos vivendo”.
Manuela reforça que só considera vencida esta etapa “quando nós tivermos o presidente Lula na rua”. “Então, pressupor que pode começar um novo ciclo com o Lula preso é ignorar a sua condição de preso político e o fato de que a restrição de liberdade imposta a ele se dá para restringir as liberdades do Brasil enquanto nação e do povo brasileiro”, completou.
Manuela enfatiza que na atual crise política contaminou as instituições e levou a um abandono dos chamados ideias liberais tão propagados e defendidos por diversos setores no país.
“Se não fosse tão trágico para o Brasil, eu acharia graça que eu veja hoje como uma das minhas responsabilidades na política a defesa de um marco que é liberal: a Constituição cidadã de 88, os direitos civis e individuais, a soberania nacional. Coisas que são uma base mínima comum de nações que são liberais. Sobretudo essa contaminação no Poder Judiciário”, declarou.
Ela pondera, no entanto, que não se pode desconsiderar os sinais dos cinco ministros que votaram pela valorização da Constituição. De acordo com Manuela, o país precisa “buscar essas vozes lúcidas que defendem a democracia, que defendem a validade dos processos eleitorais, que defendem as garantias e direitos individuais”.
“O ministro Lewandowski proferiu um voto lindíssimo, pegando o Código do Consumidor, de que ali se pode devolver com juros e correção monetária. A liberdade não se devolve com juros e correção monetária. A Suprema Corte decidiu colocar em primeiro lugar a propriedade em detrimento da liberdade. Aquele voto dele desmascara exatamente os interesses do golpe em curso no Brasil. A propriedade, a lucratividade dos grandes bancos, eles valem mais do que a Constituição de 88, do que as garantias e direitos individuais, do que o direito ao voto”, argumentou.
Indagada a falar sobre as perspectivas de unidade do campo de esquerda para a eleições de outubro, Manuela destaca que já houve avanços significativos do ponto de vista programático.
“Nós já tínhamos tido um avanço extraordinário quando as quatro fundações de PSOL, PDT, PCdoB e PT assinaram juntas uma carta programa mínimo para o desenvolvimento do país. Então, programaticamente, já estava dado isso, o mínimo comum”, disse, destacando que a defesa da democracia e da liberdade do ex-presidente cria um ambiente de luta que constrói as relações de unidade para a ação política.
“O que interessa agora não é mais os meros desdobramentos da minha pré-candidatura, mas é como a gente consegue fazer as disputas que temos que fazer eventualmente num outro ambiente. Acho que ficou nítido, tanto pra mim quanto pro Boulos, pelo que eu notei, não tenho nenhum interesse em falar por ele, que a pauta central é a liberdade do presidente Lula, é o estado de exceção democrático que o Brasil vive”, disse.
Sobre a campanha de ódio insuflada pela direita conservadora, Manuela afirma que a esquerda é o principal alvo dessa campanha “E nós somos alvos permanentes”, disse.
“E isso tem duas razões centrais para mim. Primeiro, porque existe uma candidatura hoje no Brasil que mexe com o medo e a insegurança do nosso povo, que é justo. Desconhecer a justeza de um povo que se sente inseguro diante de uma crise que tira 13 milhões de empregos é desconhecer a vida real, o povo está angustiado com a sobrevivência. E aí tu pegar esse sentimento, não dar uma resposta consciente e dar uma resposta de ódio, que é o que o Bolsonaro faz, tu instrumentaliza esse sentimento… E a segunda coisa é que eles têm dinheiro na internet. Achar que é espontâneo o clima de ódio que eles criam é não perceber que empresários, como é o caso de um que é candidato à presidência da República, colocam milhões de reais em sites que distribuem notícias para gerar ódio no povo. Então, assim, é o organizador e o financiador”, denunciou.
E completa: “Para mim, e essa é a razão pela qual eu fui lançada pré-candidata em novembro, a opinião que nós temos é que a construção das saídas para a crise passa pela eleição. Nós estamos apostando as nossas fichas, o nosso campo político, na construção de uma saída que passe por isso. Eles parecem demonstrar que não têm essa opinião e tentam resolver a eleição de forma antecipada, por exemplo, impedindo o Lula de concorrer”.
Do Portal Vermelho, com informações do Sul21

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