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Caetano: Nunca achei que fosse ver tamanho retrocesso enquanto vivesse

28 janeiro, 2020

O músico Caetano Veloso ergueu sua voz para alertar que “o fascismo está mostrando suas garras” no Brasil. Cinquenta e um anos depois de ser encarcerado pela ditadura militar, o cantor afirma, num vídeo em inglês divulgado pelas redes sociais neste fim de semana, que “o Governo brasileiro não só empreendeu uma guerra contra as artes e os criadores, mas também contra a Amazônia e os direitos humanos em geral”. Os artistas, os indígenas, outras minorias e a imprensa se transformaram no último ano em alvo da fúria e desprezo do presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores. Os representantes de 45 grupos indígenas reunidos numa recente cúpula o acusaram de ter “posto em andamento um projeto político de genocídio, etnocídio e ecocídio”. Entretanto, a economia melhora, os homicídios caem, embora as mortes provocadas por policiais estejam em alta, especialmente no Rio, e a popularidade de Bolsonaro começou a subir, numa mudança de tendência.
A democracia brasileira, cuja erosão começou no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, se deteriora mais rapidamente desde que Bolsonaro, de extrema direita, ganhou as eleições. Qualquer crítica é considerada quase uma traição. E os indícios alarmantes se sucedem. Mas isto não impede que, graças à melhora da economia e à redução dos homicídios, a popularidade do presidente tenha parado de piorar. O percentual de brasileiros que avaliam o Governo como bom ou ótimo aumentou cinco pontos desde agosto, chegando a 34%. Os que o qualificam como ruim ou péssimo caíram oito pontos, segundo uma pesquisa divulgada na semana passada, antes da divulgação de que 644.000 empregos formais foram gerados no primeiro ano do Governo Bolsonaro, a maior cifra desde 2013, quando começou a recessão.
A denúncia do Ministério Público Federal contra o jornalista Glenn Greenwald, contrariando os resultados do inquérito policial, por suposto envolvimento com o hackeamento de celulares de autoridades que serviram de base para revelações sobre o então juiz Sergio Moro, foram duramente criticadas no Brasil e no exterior por diversas entidades defensoras da liberdade de imprensa e outras liberdades. A cidade de São Paulo acolhe até o final deste mês um festival que reúne quase 500 obras censuradas em um ano de bolsonarismo no poder.
Esse é o ambiente sobre o qual alerta Caetano, que no curto vídeo admite: “Nunca achei que fosse ver semelhante retrocesso enquanto estivesse vivo”. Em sua mensagem também menciona sua luta contra a ditadura e a censura. Caetano e Gilberto Gil, então representantes do movimento musical Tropicália, foram presos durante um mês em 1968, acusados de ofenderem a bandeira e o hino nacional. Ambos tiveram que se exilar ao serem soltos. Nesse vídeo de pouco mais de um minuto, o músico aproveita para recomendar o documentário Democracia em Vertigem, da brasileira Petra Costa, candidata ao Oscar. A obra é o olhar pessoal retrospectivo da sua jovem diretora sobre os vertiginosos últimos anos, do processo que levou à destituição da esquerdista Dilma Rousseff até a eleição de Bolsonaro.
 
Fonte: El País

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