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Debate: Unegro lembra 18 anos de Durban e implementação de ações afirmativas

18 setembro, 2019


A Unegro (União de Negras e Negros pela Igualdade) promoveu ontem, 17, no auditório do Centro de Estudos Afro Orientais da UFBA, o debate “Para onde caminham as ações afirmativas no Brasil? Uma reflexão após 18 anos de Durban”. O encontro, que reuniu militantes, estudantes de escolas públicas, lideranças e representantes de movimentos negros teve o objetivo de relembrar os efeitos da conferência que aconteceu na África do Sul, em setembro 2001, e a importância desta reunião para a adoção de políticas públicas no país.
De acordo com Ângela Guimarães, socióloga e presidenta nacional da Unegro, Durban foi um grande evento mundial promovido pela ONU, em que foi debatida a importância da adoção de ações afirmativas e correção de desigualdades históricas. “O Brasil foi o último país a abolir a escravidão e todo mundo sabe que isso deixou marcas profundas, até hoje, na nossa estrutura. Por isso, nós vemos a população negra sofrendo diversos tipos de exclusão”, citou.
Ângela afirma, inclusive, que a conferência, que reuniu 117 países, foi um marco e serviu de porta de entrada para a implementação de políticas nacionais de igualdade racial. Um exemplo é a instituição da lei de cotas nos espaços acadêmicos, antes ocupados majoritariamente por pessoas brancas. “A partir de 2004 nós conseguimos essa conquista, que propiciou que a gente saísse de 2% de pessoas negras nas universidades brasileiras e fôssemos para um patamar de 12% de juventude nas universidades. Então, essa virada de cena se deu devido à mobilização coletiva que houve do movimento negro”, completou a presidenta. O Estado brasileiro foi um dos primeiros a aderir às políticas de afirmação de igualdade racial.
Representando a Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Jerônimo Junior relembrou a presença na terceira conferência mundial contra o racismo, a xenofobia, a intolerância e outras questões correlatas. Para ele, que iniciou a fala com um resgate histórico sobre o movimento negro, é necessário sempre relembrar fatos históricos e marcantes, como a marcha dos 300 anos de Zumbi dos Palmares. Incentivar a busca da juventude por ocupação de todos os espaços e por direitos é outro ponto indispensável. “Não existe democracia se não tiver política de promoção de igualdade racial”, disse.
A deputada estadual pelo PCdoB-BA, Olívia Santana, também foi à África do Sul e representou o país como uma das oradoras na Conferência de Durban. Segundo ela, que é membro fundadora da União de Negros e Negras pela Igualdade, vivemos um período em que, mais do que nunca, precisamos combater as ideias fascistas e racistas do executivo federal. “Precisamos lutar contra o governo Bolsonaro, que é antipobre, anti-negro, antimulher, antigay, antiminorias. A gente tem que se organizar e essa juventude tem que se levantar para defender o que já conquistamos. Tem maioria de preto nas cadeias e nas covas. Nós queremos maioria negra nas universidades”, falou.
Após o encontro mundial na África, criaram-se leis, secretarias e estatuto da igualdade racial, mas, apesar disso, Olívia diz que ainda é muito aquém do necessário. “Nós temos que ter uma maioria negra no Congresso, no Senado, na Câmara. Dos 63 parlamentares que temos na Assembleia Legislativa da Bahia, só 17 são negros”, argumentou Santana.
A deputada, por fim, repudiou o corte das bolsas de pesquisas, recentemente feitas pelo governo Bolsonaro, e defendeu projetos e pautas que materializem os direitos e garantias para a população negra “Nós estamos no terreno da luta. Luta contra o retrocesso. Não podemos recuar um só milímetro. É luta que eles querem, é luta que eles vão ter”, reforçou Olívia.
Arte x Resistência
A atividade promovida pela Unegro também foi marcada por discursos politizados, declamação de poesias e distribuição de livros, em parceria com a Fundação Pedro Calmon. A instituição, a partir da “ação permanente de incentivo à leitura”, cedeu exemplares de diversos autores para os estudantes de escolas públicas.
O poeta França Mahin, do Sarau Cria das Matas, recitou versos autorais e representantes da Capoeira Mangangá, militantes da Unegro e lideranças da UNE e UBES deram destaque à outras pautas antirracistas. Estiveram presentes no evento, ainda, a COMAPEC; o Coletivo Ângela Davis, da UFRB; a participante do comitê pró-cotas da UFBA, Helena Argolo; a psicóloga e pró-reitora de ações afirmativas da UFBA, Cássia Maciel e a coordenadora da ASSUFBA, Lucimara Cruz.

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