Notícia

Greenwald: “Globo fala sobre mim pra distrair atenção das reportagens”

13 junho, 2019

O jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, que divulgou conversas proibidas entre o então juiz Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato, rebateu a nota que a rede Globo produziu sobre suas declarações, nas redes sociais. No texto, Glenn faz crítica à organização da família Marinho e afirma que ela não é “compromissada com jornalismo investigativo e destemido”.
Confira a íntegra do posicionamento de Glenn Greenwald:
A Globo publicou ontem uma extensa nota com acusações e falsidades sobre mim. O objetivo é claro e é o mesmo que aparece em toda a cobertura da Globo sobre esse assunto: distrair a atenção da substância das reportagens que expõe sérios desvios na conduta de Moro, Deltan e a Força Tarefa da Lava Jato. Não ajudarei nesse esforço.
É verdade que colaborei com o Fantástico em 2013, enquanto trabalhávamos no caso Snowden. Os jornalistas com quem trabalhei, Sonia Bridi e sua equipe, são excelentes, e considero que desenvolvemos um trabalho de alta qualidade.
Mantenho, entretanto, minhas críticas às decisões corporativas da empresa e ao que considero que sejam os efeitos negativos da influência da Globo no país (obviamente incluindo o apoio dela à ditadura militar, para o qual pediram desculpas apenas em 2013, quando forçados a fazê-lo, mas que ainda é responsável pelos bilhões de reais em riqueza desfrutados pela família Marinho, mas muito mais danos além disso). Incluo agora em minhas críticas a cobertura que tem feito da #VazaJato, e o que ser um esforço para diminuir sua repercussão e proteger o ministro Sergio Moro e a força tarefa da Lava Jato. 
A diferença em como cada meio de comunicação no Brasil e internacionalmente está reportando essas revelações, e como a Globo está fazendo isso, não poderia ser mais evidente ou óbvia. Ela fala por si.
É uma realidade lamentável que no Brasil, ao contrário de qualquer outro país no mundo democrático, um órgão de mídia seja tão dominante na televisão, obrigando qualquer pessoa que deseje atingir um público grande a trabalhar em conjunto com a Rede Globo. É por isso que trabalhei no caso Snowden com a Rede Globo e é por isso que propus que colaborássemos novamente.
Até hoje, a Globo – em contraste com muitos outros grandes jornais e revistas no Brasil e internacionalmente – continua desinteressada em obter acesso ao arquivo, e as razões me parecem claras: eles preferem abafar, ao invés de revelar, os desvios da Lava-Jato e Moro.
Todos órgãos de imprensa tem excelentes repórteres e jornalistas. Porém, ainda que esses profissionais desenvolvam um grande trabalho, é muitas vezes necessário que eles sejam amparados com uma instituição compromissada com jornalismo investigativo e destemido. Não creio ser este o caso da Globo.
Foi com essa missão que fundei o Intercept, e é esse o nosso compromisso. Entrar em disputas com a Globo agora seria dar gás aqueles que pretendem desviar a atenção do que vai ficar o assunto principal: a conduta dos procuradores da força-tarefa Lava Jato e do ex-juíz e agora ministro Sergio Moro. 

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