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Haroldo Lima: “A eleição de Bolsonaro foi fraudada”

14 novembro, 2018


 
O ex-deputado constituinte Haroldo Lima, que integra o Comitê Central do PCdoB, afirmou não ter dúvida sobre a existência de um esquema fraudulento, orquestrado pela direita brasileira, em torno da eleição de Jair Bolsonaro (PSL). Haroldo foi o convidado para analisar o cenário pós-eleição, em um debate promovido pela Fundação Maurício Grabois (FMG) e pela Escola de Formação do PCdoB, na última terça-feira (13/11), em Salvador.
“Em uma sentença controvertida dentro e fora do Brasil, [o juiz Sérgio] Moro manda prender o líder das pesquisas [Lula, preso em Curitiba]. Pouco antes da eleição, Moro libera o depoimento de [Antônio] Palocci. Então, Moro é o cabo eleitoral do Moro. Essa foi uma eleição fraudada”, analisou Haroldo Lima. Ele ainda lembrou que, ainda durante o processo eleitoral, o magistrado já tinha sido convidado para assumir um ministério no governo Bolsonaro.
Militante histórico do PCdoB, Haroldo ainda garantiu que, em tantos anos de vida pública, nunca presenciou um movimento tão retrógrado e preocupante no cenário político do Brasil. “Tivemos uma grande derrota no Brasil. O grupo que emerge é absolutamente retrógrado, despreparado. […] As primeiras declarações [de Bolsonaro e da equipe] são estapafúrdias. As coisas são piores do que a gente imagina”, lamentou.
Haroldo cita como exemplo a declaração de Paulo Guedes, anunciado como super ministro da Economia de Bolsonaro, de que o Mercosul (Mercado Comum do Sul) não será prioridade, mesmo sendo a Argentina, integrante do bloco, um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Além disso, ele aponta as propostas de repressão dos movimentos sociais, de implantar a ‘Escola Sem Partido’ e da criminalização do ‘comunismo’. “Mostra o grau de obscurantismo”, completou.
A fraude
A atuação parcializada do Judiciário na política – ele acredita que a questão não se resume apenas à atuação de Moro – é uma das evidências da fraude eleitoral de 2018, mas não a única, segundo Haroldo. Ele explica que, embora a análise sobre o fenômeno destas eleições ainda não esteja concluída, as hipóteses apontam para a existência de outros elementos.
As chamadas ‘Jornadas de Junho’, em 2013, no governo da presidenta Dilma Rousseff, foram um importante ponto de partida: “As pessoas custaram a enxergar, mas foi uma manifestação massiva da direita”. Depois, lembrou da eleição de 2014, em que o derrotado, Aécio Neves (PSDB), não aceitou o resultado das urnas. Em seguida, a operação no Congresso, liderada pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para desestabilizar o governo reeleito de Dilma, e promover o impeachment, em 2016.
Mea-culpa
Ao apontar a existência do esquema fraudulento, Haroldo também fez a mea-culpa. Para ele, houve uma ‘inestimável’ perda de prestígio junto ao povo dos movimentos progressistas no Brasil, muito por conta dos processos de corrupção que foram associados aos partidos de esquerda. “A turma que errou não era partidária [citou os servidores de carreira da Petrobras como exemplo], mas nós perdemos a bandeira da luta contra a corrupção”, disse.
Haroldo acredita que faltou uma melhor comunicação com o povo, o que pode ser notado, também, na dificuldade que camadas médias da população têm para compreender as questões dos direitos humanos. “Acham que estão perdendo espaço com os direitos humanos. Bolsonaro entendeu isso e disse o que eles queriam ouvir: bandido bom é bandido morto”.
Outro erro apontando pelo dirigente nacional foi recente, nas mobilizações contra a eleição de Bolsonaro. “Não fizemos frente ampla, apenas frente de esquerda”, defendeu. Para ele, a criação de uma frente ampla, que não foi realizada antes, é necessária agora, no processo de resistência ao novo governo, em defesa da democracia e da Constituição Federal vigente.
“Precisamos organizar a frente sem hegemonia e sem vetos”, disse. Além da frente, ele acredita ser necessário fazer mais trabalho de base e divulgar os exemplos vitoriosos, como o que fez Flávio Dino, governador do PCdoB no Maranhão, que decretou no estado a Escola Sem Censura.
Ao fim do encontro, Haroldo conclamou a militância a permanecer na linha de frente da luta contra os desmandos e retrocessos no novo governo. “A nossa resistência é valiosa”, finalizou.

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