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Comissão da Verdade recebe documentos sobre presos políticos na Lemos Brito

12 agosto, 2015

“Continuam quatro internos subversivos recolhidos nos cubículos da Galeria F e um na enfermaria. Ditos internos continuam recusando a alimentação, fazendo greve de fome”. A anotação, registrada no livro de ocorrências da Penitenciária Lemos Brito (PLB), em 21 de abril de 1974, foi lida na terça-feira (11) pelo ex-preso político Emiliano José.
Verdade da Bahia (CEV-BA) um acervo digitalizado, com três livros de ocorrências e 23 prontuários, referentes a ex-presos políticos que ficaram reclusos A leitura aconteceu durante o ato em que a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) entregou à Comissão Estadual da na Galeria F da penitenciária.
Ex-deputado estadual e atual secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações, Emiliano, citado no livro de ocorrências como o ‘subversivo’, quando estava na enfermaria do presídio com uma forte otite, recebeu a observação do então diretor da PLB, Osmundo Tosta: “Dor de ouvido se cura é com óleo quente”. Ele esteve preso na Lemos Brito, entre 1970 e 1974.
Ao passar os documentos ao coordenador da CEV-Bahia, Joviniano Neto, o secretário da Seap, Nestor Duarte, ressaltou a importância da transformação da Galeria F num espaço de memória “para que a população possa conhecer a história das pessoas que passaram por aqui”. Também no ato, realizado na Seap, o presidente da Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa, deputado Marcelino Galo.
Importância histórica
O levantamento dos arquivos foi feito pelo Centro de Documentação da Penitenciária Lemos Brito (Cedoc), que participará também da criação de um memorial para abrigar a história dos presos políticos e do sistema prisional baiano.
A pesquisadora do Cedoc, Cláudia Trindade, atendendo solicitação da Comissão Estadual da Verdade, vem realizando o levantamento da documentação referente à Galeria F no período de 1969 a 1979. No Livro de Ocorrências Diárias da penitenciária foram identificados 31 presos políticos na galeria no primeiro semestre de 1973.
Todos os ex-presos políticos, que ficaram reclusos na Lemos Brito, são citados nos livros fazendo referências às saídas para o hospital e outros destinos, datas de entrada, visitantes, episódios envolvendo presos e funcionários, e revistas. Na documentação consta, por exemplo, que, em 24 de dezembro de 1972, foi realizado o casamento de Theodomiro Romeiro dos Santos, o primeiro condenado à pena de morte na República.
Segundo a pesquisadora, o Cedoc foi idealizado pelo atual diretor da unidade, Everaldo Jesus de Carvalho, com o objetivo de “organizar, higienizar, inventariar e preservar uma documentação de valor inestimável e imprescindível para a preservação da memória do sistema prisional baiano e de seus atores envolvidos – presos políticos, presos comuns, familiares, agentes penitenciários, gestores administrativos e autoridades governamentais”.
Secom

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