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Novo presidente da UNE: “Educação é a melhor bandeira de mobilização”

23 julho, 2019


Entrevista da Carta Capital
Enquanto os holofotes da capital federal na última semana estavam apontados para a votação da reforma da Previdência, mais de 10 mil estudantes de todo o Brasil se reuniam no Congresso da União Nacional dos Estudantes, realizado bianualmente.
Além de pautarem a defesa da Educação, estiveram entre os principais temas o debate de medidas que possam barrar a reforma da Previdência e os retrocessos do governo Bolsonaro. No 57º congresso da entidade também foi eleito um novo presidente, o goiano Iago Montalvão, que conduzirá a UNE pelos próximos dois anos.
Eleito com 4053 votos, 70% do total, ele já participava do movimento estudantil secundarista, quando compôs o grêmio estudantil de seu colégio. Na universidade, atuou como pesquisador-bolsista do CNPq e foi monitor da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ele também foi dirigente do Diretório Central dos Estudantes da UFG, vice da UNE em Goiás, dirigente do Centro Acadêmico Visconde de Cairu na FEA-USP e entre 2017 a 2019, compôs a Diretoria de Memória Estudantil da UNE.
Iago é o 15º presidente consecutivo da UNE a integrar a União da Juventude Socialista (UJS), juventude partidária do PCdoB. A juventude está na presidência da entidade desde 1991.
O Congresso contou com uma passeata na Esplanada dos Ministérios rumo ao Congresso Nacional e um evento em celebração aos 40 anos de reconstrução da UNE com diversos de seus ex-presidentes. A entidade foi cassada em 1964, devido ao regime militar, e até 1979 operou na ilegalidade.
Confira a entrevista com Iago Montalvão:
Qual foi a importância deste Congresso da entidade?
Iago Montalvão: Demonstramos para a população brasileira que os estudantes estão disposto a lutar contra os ataques que foram feitos à educação. Esse Congresso foi, sobretudo, importante para trazer esperança para o povo e que os estudantes vão estar preparados para lutar contra esses retrocessos. Além disso, foi um dos maiores Congressos que a UNE já realizou. Foi histórico porque marca os 40 anos de reconstrução da UNE, porque foi realizado neste momento político em que vivemos uma perseguição aos movimentos sociais, o que se relaciona diretamente à essa história da reconstrução da UNE. Mas é histórico também por conta das mobilizações estudantis. Há muito tempo, não víamos os estudantes protagonizando mobilizações tão grandes assim.
Quais outras mobilizações marcaram a história recente da UNE?
IM: Tivemos grandes atos quando conquistamos os 10% do PIB para a Educação [2012]. No golpe [contra a presidente Dilma Rousseff] também fizemos grandes passeatas. Talvez, nessa dimensão de maio, tenhamos visto apenas no Fora Collor. Isso, no entanto, não impediu que a UNE continuasse sempre mobilizada.
Vocês convocaram uma nova data de paralisações. Qual é o objetivo dessa mobilização?
IM: O ato do dia 13 de agosto tem como pauta principal a defesa da educação, que foi exatamente o que fizemos em maio, contra os cortes, em defesa dos investimentos, em defesa da autonomia universitária, mas também em defesa de uma universidade que seja pública e gratuita, com todo o seu trabalho voltado para a sociedade brasileira e também em defesa dos estudantes das universidades privadas. Essa também é uma luta que precisa estar no nosso radar, afinal os estudantes das privadas têm sofrido muito com falta de apoio do governo, já que essas faculdades entendem a educação como uma mercadoria e querem lucrar cada vez mais. Esse será o centro da nossa luta.
Durante o Congresso, foi debatida a necessidade de defesa contra a reforma da Previdência. Ela não entra na pauta do dia 13 de agosto?
IM: Nós somos absolutamente contrários à reforma da Previdência. Construímos a greve geral do dia 14 de junho. Temos formado unidade com movimentos sociais, especialmente as centrais sindicais. Vamos também levantar essa contrariedade nos atos do dia 13, mas a educação é a melhor bandeira para mobilizar o povo. É a melhor bandeira, inclusive, para ampliar a nossa luta, porque entendemos que a população tem muita sensibilidade com a educação.
Foram mais de 10 mil estudantes que participaram do Congresso, com o maior número de delegados na história da UNE. O que isso representa?
IM: Demonstra a vontade dos estudantes de lutar pela Educação. Inclusive, muitos dos estudantes que foram aos atos no mês de maio não eram necessariamente contra o governo Bolsonaro, mas estavam indignados.
As mobilizações estudantis de maio tiveram muito mais adesão que a greve geral contra a reforma da Previdência em 14 de junho. Como enxerga esse impasse?
IM: Precisamos casar as pautas, as bandeiras e unificar as lutas. Os movimentos sociais dos trabalhadores, das centrais sindicais, de outros setores também contribuíram para que esses atos fossem atos grandes. Então, sei que eles vão contribuir também no dia 13. A nossa ação é sempre conciliar lutas unificadas.
Por terem um posicionamento radicalmente contra o governo, vocês não possuem receio de que a UNE possa ser cassada novamente?
IM: Sem dúvida. O governo já deu várias sinalizações. Mas a UNE é reconhecida como a entidade legítima de representação estudantil por uma lei, que foi sancionada pelo presidente Sarney. Ela reconhece a UNE, os CAs e os DCEs como representações dos estudantes.

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