Opinião

Everaldo Augusto: Um marco para o sindicalismo classista no Brasil

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22 agosto, 2020

 

Em 2020 completam-se vinte anos da vitória da Corrente Sindical Classista (CSC) no 9º Congresso Estadual da CUT-Bahia (9° CECUT), realizado em julho de 2000. A chapa vitoriosa incluía o núcleo da CSC, formado pelos militantes do PCdoB, mais representações de correntes petistas minoritárias, que se diferenciavam da corrente Articulação, majoritária na central, mais representações independentes Cutistas e um grande arco de alianças com o sindicalismo rural, dirigido pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado. A CUT Bahia passou a ser a primeira seção da CUT nacional a ser dirigida pelos comunistas.

A vitória da chapa classista, intitulada NOVA CUT, extrapolou os limites do sindicalismo, teve repercussão na frente de Oposição na Bahia, animou os movimentos sociais, repercutiu no sindicalismo nacional e interferiu na correlação de forças da Central, que realizaria seu Congresso Nacional logo em seguida, o 8º CONCUT.

A Chapa NOVA CUT expunha as divergências de caráter político e estratégico da CSC com a corrente majoritária Articulação diante dos efeitos da agenda neoliberal de FHC. Os classistas defendiam um sindicalismo reativo, que priorizava a unidade na luta e apostava na mobilização e na resistência dos trabalhadores contra a desnacionalização da economia, as privatizações, a destruição do setor produtivo nacional, a desregulamentação das relações de trabalho e sintetizava isso na palavra de ordem Fora FHC, enquanto Articulação, equivocadamente, defendia e praticava um sindicalismo meramente propositivo, com ênfase nas pautas corporativas e localizadas,  que priorizava ações complementares em detrimento das questões estratégicas para os trabalhadores, levando a CUT a perder suas características de Central e a se assemelhar mais a uma ONG. A este sindicalismo extremamente pragmático eles davam o nome de “sindicalismo cidadão”.

A eleição da Chapa NOVA CUT não representava apenas uma vitória congressual. Ela foi resultado de um intenso e prolongado trabalho político e organizativo em mais 500 sindicatos baianos que gravitavam em torno da CSC e que, por conta do imobilismo e da prática burocrática imposta à Central na Bahia, estes sindicatos não conseguiam expressar sua força e suas proposições no espaços da CUT. Em um momento de franca ascensão da oposição no Estado contra FHC e contra as oligarquias do senador ACM, os trabalhadores ressentiam da ausência da Central nas ruas e nas lutas.

No momento seguinte à vitória da CSC, a CUT ocupou as ruas em Salvador e em todo Estado. Esteve presente e incentivou greves e mobilizações nos mais diversos setores, inclusive as greves vitoriosas da PM baiana. Foi a principal entidade que organizou e participou de maneira ampla das jornadas do 16 de maio de 2001 pela cassação de ACM, por ele ter fraudado o Senado Federal. Sob a direção classista a Central passou a integrar a Frente Política na Bahia, jogou papel decisivo de apoio nas eleições presidenciais seguintes, que deram vitória a Lula, e na grande vitória de Jaques Wagner para governador da Bahia.

A vitória da CSC no 9º Congresso da CUT Bahia resgatou a tradição de participação geral do sindicalismo classista baiano e retomou o legado que se inicia no século passado com a luta democrática na década de 60, com a conquista dos sindicatos pelas oposições e a luta pelo fim da Ditadura Militar na década de 80 e continuou no início do século XXI,  com a CSC à frente da CUT Bahia, dirigindo a luta contra as reformas neoliberais. Em âmbito nacional a conquista da CUT Bahia pela CSC contribuiu para fortalecer o sindicalismo classista, unitário, politizado e de massas, com interferência direta em todos os fóruns da Central e com destacada participação no XV Congresso da FSM, Federação Sindical Mundial em 2005, realizado em Havana, Cuba, que politicamente relançou a entidade diante dos novos desafios decorrentes das transformações impostas pelo neoliberalismo, a versão mais violenta do capital.

Os dois mandatos da CSC na CUT Bahia, a segunda maior seção da CUT Nacional, protagonizaram e deram bases para a construção de condições objetivas — força real entre os trabalhadores— e subjetivas — fortalecimento da consciência crítica — para a criação de uma Central Classista no Brasil. A conquista da CUT Bahia pela CSC, portanto, é um dos marcos, dentre outros, que levou o sindicalismo classista, aquele que se orienta pela lógica da luta de classes e defende o programa maior dos trabalhadores, o socialismo, a romper com o sindicalismo cidadão da CUT e fundar a CTB — Central das Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil, em dezembro de 2007.

 

Everaldo Augusto é bancário e professor, foi presidente da CUT Bahia eleito no 9º CECUT, dirigiu a Central no Estado por dois mandatos, foi da Executiva da CUT Nacional e integrou a primeira direção da CTB . É presidente licenciado do PCdoB Salvador

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