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Carlos Marighella é absolvido em júri simbólico realizado em Salvador

15 fevereiro, 2019


“Tua luta foi contra a fome e a miséria, sonhavas com a fartura e a alegria, amavas a vida, o ser humano, a liberdade. Aqui estás, plantado em teu chão e frutificarás. Não tiveste tempo para ter medo, venceste o tempo do medo e do desespero”. Com este trecho de Jorge Amado sobre o réu, o defensor público Raul Palmeira convenceu o Conselho de Sentença a absolver Carlos Marighella na 6ª edição do projeto Júri Simulado – Releitura do Direito na História. O evento promovido pela Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE/BA) aconteceu na última  quarta-feira (13/02), no Teatro Vila Velha, em Salvador.
Interpretado pelo ator do Bando de Teatro Olodum, Fábio de Santana, Carlos Marighella, considerado o inimigo número um da ditadura militar, foi levado a Júri praticamente 50 anos após ser morto em uma emboscada por agentes do Estado. Tudo isso sob o olhar do público que ocupou todos os espaços do consagrado Teatro Vila Velha. De um lado, a defesa, feita de forma emocionada pelo defensor público Raul Palmeira, do outro a acusação, interpretada com brilhantismo pelo defensor público Henrique Bandeira. Ao coordenador da 5ª Regional da DPE/BA, André Cerqueira Lima, coube o papel de juiz.
“Muito interessante que a cada momento vão acontecendo coisas novas. Aqui mesmo, em 2011, Marighella foi julgado pela Comissão de Anistia e foi anistiado com toda a pompa e circunstância. Porém, esse julgamento de hoje foi muito mais emocionante. Foi algo que me fez refletir e acho que provou para todo mundo aqui como Marighella foi espezinhado. Aquela infâmia toda que se propagou sobre ele foi exposta. Eu, como familiar e militante, acho que serviu muito para aplacar toda essa dor que toda a família sentiu pelo tratamento que ele teve”, disse o filho de Marighella, o advogado Carlos Augusto Marighella.
Em sua fala, o defensor público geral, Clériston Cavalcante de Macêdo, destacou que a Defensoria Pública como agente transformador social tem por obrigação institucional fazer com que determinados assuntos sejam colocados na ordem do dia: “É importante para a Instituição trazer esse tema à baila para que possamos conhecer mais da história, compreendê-la e não cometer na atualidade os equívocos que outrora foram cometidos ”.
Ao final do julgamento, o público conheceu mais da história de Carlos Marighella com a palestra do jornalista Mário Magalhães, autor do livro Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo. Mário é o responsável por reconstituir a trepidante trajetória do revolucionário.
“A Defensoria não defendeu o Marighella, mas ofereceu um julgamento para ele. Isso tem envergadura histórica. Durante toda a sua vida ele não teve direito a um julgamento justo. O primeiro ocorreu em 1937 por um tribunal de exceção, não previsto pela Constituição, e instaurado por um governo autoritário do presidente Getúlio Vargas. Os últimos julgamentos ocorreram durante a ditadura de 1964”, opinou Mário Magalhães.
O projeto
Idealizado pelos defensores públicos Rafson Ximenes e Raul Palmeira, e pela coordenadora de Proteção aos Direitos Humanos da DPE/BA, Eva Rodrigues, o projeto Júri Simulado – Releitura do Direito na História é uma série pensada pela Defensoria Pública da Bahia e tem como proposta garantir o resgate dos direitos de personagens da história popular que, à época, não puderam exercer a prerrogativa de todo acusado: o contraditório e a ampla defesa efetiva.
Na sua primeira edição, realizada em novembro de 2016, Luíza Mahin (Valdineia Soriano) foi absolvida das acusações de conspiração contra a Coroa Portuguesa, em 1835. Em novembro de 2017, foi a vez de Zumbi dos Palmares (Sérgio Laurentino) ser absolvido pelo Júri Simulado. No ano de 2018, houve, ainda, mais três julgamentos: do índio tupinambá Caboclo Marcelino (Pedro Albuquerque), da efetividade da Lei Áurea (de forma inédita, um júri de uma lei)  e do poeta Cuíca de Santo Amaro (Cristóvão da Silva).
 
Fonte: Ascom/Defensoria

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