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Augusto Vasconcelos: Novo presidente dos Bancários fala sobre a luta dos trabalhadores

6 junho, 2014

O novo presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia (SBBA), Augusto Vasconcelos, tomou posse na última quinta-feira (5/6), em Salvador, junto à nova diretoria eleita, composta por 68 bancários. Graduado em Direito, mestre em Políticas Sociais e Cidadania e especialista em Direito do Estado, Vasconcelos estará à frente da entidade pelos próximos três anos.
Antes da posse, Augusto Vasconcelos foi entrevistado pela jornalista Rose Lima, do jornal O Bancário, e fez uma análise sobre o atual cenário econômico e político do país e o importante papel dos trabalhadores no desenvolvimento. O novo presidente também falou da necessidade de se afastar o retrocesso e da expectativa em relação ao movimento sindical. Confira.
 
– O que muda no Sindicato dos Bancários da Bahia a partir desta sexta-feira?
Augusto Vasconcelos – A nova gestão tem compromisso muito grande com a categoria. O principal objetivo é unificar os trabalhadores. Nesse intuito vamos integrar ainda mais as ferramentas de comunicação. Também fortalecer o Departamento do Interior, ampliando as ações nos municípios da base do Sindicato. Garantir que a Saúde e o Jurídico trabalhem conjuntamente, prestando bom atendimento, mas também fazendo a luta mais ampla, em defesa dos direitos da sociedade. A ideia é aproximar bancários e clientes para uma luta conjunta pelas transformações do país.
 
Quais os desafios que se apresentam para os bancários e para os trabalhadores brasileiros no atual cenário econômico e político?
AV – Vivemos um momento importante no país. Passamos por transformações nos últimos anos que ajudaram a melhorar as condições de vida do povo. Contudo, são insuficientes para enfrentar a ganância daqueles que ainda lucram muito. Os bancos e os grandes empresários controlam a mídia, o Congresso Nacional, financiam as principais campanhas eleitorais. E é nesse cenário que os trabalhadores precisam ter voz para apresentar sua plataforma. Por isso, compreendemos que é preciso aumentar o protagonismo do movimento sindical para que os trabalhadores possam ter mais participação nas decisões do país. Não dá para aceitar que apenas 70 deputados federais tenham ligação com o movimento social. Nós precisamos ampliar a nossa influência. Para isso, é necessário que sejam feitas as reformas estruturais. O que aconteceu nos últimos anos foi bom, mas ainda é pouco diante das desigualdades históricas que vivemos. Por isso, apresentamos propostas. Uma reforma tributária progressiva, que taxe as grandes fortunas e diminua a tributação sobre o consumo e sobre os salários. Defendemos também reforma educacional profunda, com ampliação dos investimentos. Na saúde, a melhoria no atendimento é urgente.
 
Que análise você faz do atual quadro político nacional e estadual?
AV – Em nossa avaliação qualquer governo que venha a assumir nos marcos de uma economia de mercado e capitalista como a nossa enfrentará enormes dificuldades e será tragado para a defesa dos interesses da elite. É claro que o Brasil e a Bahia avançaram, mas essas mudanças ainda são tímidas para as esperanças depositadas. Agora é obvio que temos a clareza de que o rio não tem três margens. Há apenas duas e temos de impedir o retrocesso. É necessário avançar mais, aprofundar as mudanças para que a pauta dos trabalhadores no Congresso seja destravada e isso só é possível se evitarmos a volta ao passado, porque o que aconteceu no país em períodos anteriores foi extremamente nebuloso e nós, bancários, sofremos bastante. Basta lembrar dos anos 90 com o congelamento salarial, privatizações, perda de emprego, alta rotatividade e o adoecimento brutal da categoria. Claro que boa parte dos problemas continua, mas é importante ressaltar que hoje há um ambiente de diálogo, para negociar com a Fenaban e os bancos públicos. É fundamental valorizar isso, porque vivemos períodos em que o diálogo não ocorria.
 
Você falou sobre as dificuldades em obter avanços. Aproveitando o gancho, a democratização da mídia seria uma forma de reduzir os empecilhos?
 AV – Duas questões são muito importantes. Democratizar os meios de comunicação e garantir uma reforma política democrática. É inaceitável na democracia, e o Brasil é uma das democracias consolidadas no mundo que não tem uma regulamentação clara dos meios de comunicação. É bom citar que vários paises já possuem, inclusive os EUA e o Reino Unido, têm mecanismos regulatórios, o que não significa censura. É justamente o contrário. É a oportunidade de a população ter mais de uma opinião, ter acesso a mais de uma informação. É inaceitável que sete famílias controlem os meios de comunicação e que isso crie mecanismos que impeçam que outras opiniões apareçam. Na TV, na rádio. Até na internet o monopólio existe. Outro assunto importante é acabar de uma vez por todas com o financiamento das empresas nas campanhas eleitorais. Não é admissível que tenhamos uma democracia em que os parlamentares, os candidatos ao Executivo, eles sejam financiados, patrocinados legalmente, autorizados pela legislação por pessoa jurídica. Pessoa jurídica não vota. Então por que vai ter direito de influenciar no rumo da eleição? É necessário dá mais igualdade de condições para que as candidaturas possam debater programas, projetos e não a fulanização da política. Infelizmente a agenda pública no país está interditada. Quando você vai discutir política, o único tema é a corrupção. Não há um debate sobre os rumos da economia nacional, o rumo do desenvolvimento educacional, da saúde, do esperte. Até tem temas sendo discutidos no Congresso, mas eles são represados, porque há um interesse grande de afastar a população da política e a melhor forma é jogar esse tema da corrupção. Não que ele não seja importante. Ao contrário. Precisamos enfrentar a corrupção, dar mais transparência ao país e garantir que as pessoas que praticam mal feito sejam punidas. Agora não podemos ser iludidos e achar que o Brasil tem que ter um único tema a ser debatido na imprensa.
 
Como reencantar os trabalhadores?
AV – Reencantar os bancários não é fácil. Nós vivemos numa situação de sociedade onde é cada vez mais pulverizada as organizações. Há um questionamento muito grande a organizações coletivas. E isso não é um fenômeno brasileiro. É mundial. Reencantar as pessoas com a luta coletiva passa por enfrentar o individualismo, o consumismo. Se aproximar das pessoas. Dizer que o que discutimos em nível geral, tocam no dia a dia porque o preço do pão que vamos comprar na padaria é influenciado por essas decisões. O preço do combustível, as questões do dia a dia, da escola do filho, da saúde, do salário do trabalhador, das condições de trabalho têm relação com questões mais amplas do país. Então fazer o link entre a questão específica e a questão geral é a chave para reencantar as pessoas. É bom ressaltar que em meio a esse cenário, as eleições do Sindicato comprovam que há muita vitalidade e vigor do Sindicato e que tenho muito orgulho de assumir esse desafio.
 
Você acha que o movimento sindical deve tomar posição nas eleições de outubro próximo?
AV – O movimento sindical não pode ter postura neutra, nem passiva. Portanto, deve sim tomar partido. As pessoas têm liberdade, têm opinião. As entidades sindicais oficialmente não podem apoiar candidaturas, mas é importante que os dirigentes, os bancários e os trabalhadores em geral, tomem lado para defender o seu projeto. Temos a clareza de que há uma possibilidade de retrocesso no país e precisamos impedir. O nosso lado é o lado de quem quer aprofundar as mudanças, de quem defende mais inclusão social, mais democracia, mais desenvolvimento econômico, menos juros para que a gente possa ter de fato um país que possibilite melhores condições de vida para as pessoas. Mas, é bom ressaltar que o Sindicato, independente do governo, deve manter sua autonomia. É a autonomia que assegura que nós possamos garantir que as bandeiras dos trabalhadores sejam erguidas.
 
Entrevista feita pela jornalista Rose Lima, do jornal O Bancário, do Sindicato dos Bancários.

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