A co-coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Juventudes, Culturas, Identidades e Cidadania da Universidade Católica de Salvador (NPEJI/UCSal), Mary Garcia Castro, criticou o artigo do arcebispo de Salvador, Dom Murilo Krieger, publicado na edição de domingo (14/9) do jornal A Tarde, em que ele condena a “Teoria do Gênero” – que dá nome ao texto. Para Mary, a argumentação apresentada pelo religioso é simples demais para tratar de um tema complexo.
No texto, Krieger explica que a teoria do gênero, assim batizada por ele, “é uma hipótese segundo a qual a identidade sexual do ser humano depende do ambiente sociocultural e não do sexo – homem ou mulher – que o caracteriza, desde o instante da concepção”. Ademais, o articulista defendeu que adotar a teoria seria comprometer a procriação e o desenvolvimento psicológico das crianças criadas por pessoas com gênero diferente do sexo de nascimento.
“Adotar essa teoria significa querer uma sociedade baseada numa ilusão. Sejamos realistas: nascemos menino ou menina. A procriação necessita de pai e mãe. A criança precisa de pai e mãe para se desenvolver, para construir a sua personalidade”, escreveu o arcebispo.
Na crítica à publicação, que foi enviada ao jornal, Mary explicou que o artigo do religioso não possui base científica e tem erros primários, como o de considerar que, nos estudos de gênero, se confunde e se recorre ao conceito de gênero em substituição ao termo sexo.
“O debate sobre sexo/gênero comporta polêmicas sobre lugar da cultura, de determinismos biológicos e imposições por crenças, tabus, fundamentalismos e preconceitos sobre a construção social de corpos, desejos, vontades e formas de ser na vida, o que vai além dos direitos das mulheres, de pessoas LGBT, e diz respeito a fobias, medo ao livre pensar e a diversidade do ser e estar no mundo”, escreveu.
‘Inquisição cognitiva’
Na tentativa de desqualificar a “Teoria do Gênero”, o arcebispo de Salvador recorreu a dogmas bíblicos – cita o livro de Gênesis, que ensina o homem a se unir a uma mulher, para que o casal seja “uma só carne”. Mary condenou a tentativa de impor a todos os preceitos cristãos e afirmou que tais dogmas têm provocado sofrimentos e perseguições aos que não se enquadram no regime da heteronormatividade.
“Se alguém quer ter sua vida ordenada pela Bíblia, ótimo, mas há muitos que querem viver de acordo com outros parâmetros. De que corpo fala o articulista? Que a Igreja tenha suas próprias formatações, ótimo, mas por favor, a inquisição cognitiva é tão nefasta ao ser no mundo, como ter uma fé que decole de discriminações e verdades únicas”, finalizou a estudiosa.
Além de coordenar o NPEJI da UCSal, Mary Garcia Castro também integra a UBM (União Brasileira de Mulheres).