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Vital Nolasco, militante histórico do PCdoB, morre aos 75 anos

19 janeiro, 2022

O Comitê Estadual do PCdoB na Bahia lamenta profundamente a morte de Vital Nolasco, militante histórico do Partido Comunista do Brasil, que, aos 75 anos de idade, nos deixou na madrugada desta quarta-feira (19). O líder operário e ex-vereador de São Paulo estava internado na UTI lutando contra uma fibrose pulmonar crônica, mas não resistiu às complicações da doença.

Vital Nolasco nasceu no dia 16 de dezembro de 1946 em Belo Horizonte, Minas Gerais. O primeiro contato com o trabalho operário ocorreu em 1959, quando tinha 13 anos e virou ajudante na serralheria de um tio. Sendo integrante de família católica, descobriu a luta social pelas mãos da Igreja. Pouco antes do golpe de 1964, o padre José Miranda o apresentou à JOC (Juventude Operária Católica). Em meio a essa iniciação na militância e a empregos em fábricas, Vital tomou contato com o Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem.

Vital era funcionário da Belgo Mineira e dirigente sindical quando explodiu, em abril de 1968, a greve dos metalúrgicos de Contagem, a primeira e histórica paralisação em pleno regime militar (1964-1985).

Na mira do regime em Minas Gerais, Vital se transferiu para São Paulo, onde passou a viver na clandestinidade. Não só a JOC o ajudava – mas também a AP (Ação Popular), outra organização de origem católica, com forte presença no movimento estudantil universitário.

Esse período coincide com seus primeiros estudos do marxismo-leninismo e culmina com a entrada no PCdoB, já em 1972, em meio ao processo de incorporação da AP ao Partido, finalizado em 1973. É a época, ainda, da Guerrilha do Araguaia (1967-1974), que, sob a liderança do PCdoB, constitui a mais longa e épica das ações da luta armada contra a ditadura. O cerco aos comunistas avança em todo o país.

Em março de 1974, Vital foi preso quando estava na Delegacia do Ministério do Trabalho, em São Paulo, para fazer a homologação de sua demissão da Philco. Levado ao DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna), ficou preso por 40 dias e foi torturado.

Mesmo solto e, posteriormente, absolvido pela Justiça Militar, Vital continuou sob a vigilância do regime e teve de se afastar temporariamente das atividades partidárias e sindicais. Envolveu-se com o Movimento contra o Custo de Vida, nascido nas periferias de São Paulo e depois rebatizado de Movimento contra a Carestia.

No final de 1977, houve uma força-tarefa para reorganizar as bases do PCdoB em São Paulo. A Vital, coube a missão de organizar o chamado “comitê distrital” do Partido na região fabril de Santo Amaro, em que ele seria o primeiro presidente. Vital liderou a criação e foi o primeiro presidente, em 1980, do Centro de Cultura Operária (CCO). Pouco depois, começou a trabalhar na Metal Leve.

O Sindicato de Metalúrgicos de São Paulo aderiu à campanha das “Diretas Já”, pelo fim da ditadura militar e a redemocratização, e Vital foi dirigente da entidade de julho de 1984 a junho de 1987, no cargo de 2º secretário. Um dos marcos dessa gestão foi a greve geral de 1985, que, diante da hiperinflação, exigia reajustes trimestrais. No mesmo ano, Vital foi um dos fundadores e o primeiro presidente do CES (Centro de Estudos Sindicais).

A inconteste projeção de Vital levou o PCdoB a indicá-lo como candidato a vereador na eleição municipal de 1988. Era o primeiro pleito à Câmara Municipal de São Paulo desde que o Partido Comunista do Brasil havia reconquistado, em 1985, a legalidade. Vital, mesmo fora da direção do Sindicato, continuava influente nas bases: ele foi eleito vice-presidente da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) da Metal Leve, no primeiro semestre de 1988, com 1.707 votos.

O vereador do PCdoB esteve presente em momentos importantes do Legislativo paulistano, como a construção da Lei Orgânica Municipal, em 1990, no rastro da aprovação da “Constituição Cidadã” de 1988. Presidiu a CEI da Merenda, uma Comissão Especial de Inquérito que investigou desvios de recursos públicos destinados à merenda escolar. Compôs a CPI das Ossadas de Perus, que denunciou a existência de 1.049 restos mortais de desaparecidos políticos da ditadura no Cemitério Municipal Dom Bosco.

Aos 50 anos, Vital passou a assumir tarefas partidárias de maior relevo. Já era membro do Comitê Central (CC) do Partido desde 1992. Em 1997, assumiu a presidência do PCdoB São Paulo, na qual permaneceu por apenas três meses, porque seria indicado a uma tarefa nacional: comandar a Secretaria de Movimentos Populares e Sociais do CC. Ele ainda concorreu a deputado federal em 1998, sendo essa sua última eleição a cargos parlamentares.

Em 2001, Vital participou da comissão de busca dos desaparecidos do Araguaia. O 10º Congresso do PCdoB, no mesmo ano, foi marcado pela transição na presidência de João Amazonas para Renato Rabelo. A nova direção comunista, liderada por Renato, confiou a Vital o cargo de secretário nacional de Finanças em 2003. Foram dez anos à frente da tesouraria partidária, e uma conquista em especial: a aquisição, em 2008, de uma sede própria para o PCdoB, na região da República, em São Paulo.

De 2015 a 2021, o líder operário respondeu pela Secretaria de Movimento Sindical do PCdoB São Paulo. Desde 2008, era, ainda, membro do Conselho Curador da Fundação Maurício Grabois. As memórias de Vital foram organizadas no livro Vital Nolasco – Vale a Pena Lutar, narrado na primeira pessoa, e organizado pelo jornalista Osvaldo Bertolino, tendo sido publicado em 2016 em parceria entre a Fundação Maurício Grabois a Editora Anita Garibaldi.

Com informações do Portal Vermelho.

Vital Nolasco. Foto: Divulgação.

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